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Artigos sobre eutanásia e fim da vida
Eutanásia: direito de matar ou direito de morrer
O ato de promover a morte antes do que seria de esperar,
por motivo de compaixão e diante de um sofrimento penoso e insuportável, sempre foi
motivo de reflexão por parte da sociedade.
A medicina atual, na medida em que avança na possibilidade de salvar mais vidas, cria
inevitavelmente complexos dilemas éticos que permitem maiores dificuldades para um
conceito mais ajustado do fim da existência humana. Além disso, "o aumento da
eficácia e a segurança das novas modalidades terapêuticas motivam também
questionamentos quanto aos aspectos econômicos, éticos e legais resultantes do emprego
exagerado de tais medidas e das possíveis indicações inadequadas de sua
aplicação". O cenário da morte e a situação de paciente terminal são as
condições que ensejam maiores conflitos neste contexto, levando em conta os princípios,
às vezes antagônicos, da preservação da vida e do alívio do sofrimento.
Desse modo, disfarçada, enfraquecida e desumanizada pelos rigores da moderna
tecnologia médica, a morte vai mudando sua face ao longo do tempo. A cada dia que passa
maior é a cobrança de que é possível uma morte digna e as famílias já admitem o
direito de decidir sobre o destino de seus enfermos insalváveis e torturados pelo
sofrimento físico, para os quais os meios terapêuticos disponíveis não conseguem
atenuar. O médico vai sendo influenciado a seguir os passos dos moribundos e a agir com
mais "sprit de finesse", orientado por uma nova ética fundada em princípios
sentimentais e preocupada em entender as dificuldades do final da vida humana; uma ética
necessária para suprir uma tecnologia dispensável. Neste instante, é possível
que a medicina venha rever seu ideário e suas possibilidades, tendo a
"humildade" de não tentar "vencer o invencível".
Apesar do avanço da ciência, se auscultarmos mais atentamente a realidade
sociológica atual nas comunidades de nossa convivência cultural, certamente vamos
entender a complexidade e a profundeza do tema. Casabona, sobre isso, afirma que "tem
de deixar-se assentado que a realidade se apresenta com uma complexidade muito superior,
que dificulta a valorização da oportunidade da decisão a tomar. Afirmações como
‘incurável’, ‘proximidade de morte’, ‘perspectiva de cura’,
‘prolongamento da vida’, etc., são posições muito relativas e de uma
referência em muitas ocasiões, pouco confiáveis. Daí a delicadeza e a escrupulosidade
necessárias na hora de enfrentar-se com o caso concreto".
O "direito de matar" ou o "direito de morrer" sempre teve em todas
as épocas seus mais extremados defensores. Na Índia de antigamente, os incuráveis eram
jogados no Ganges, depois de se lhes vedar a boca e as narinas com a lama sagrada. Os
espartanos, conta Plutarco em Vidas Paralelas, do alto do monte Taijeto, lançavam
os recém-nascidos deformados e até anciãos, pois "só viam em seus filhos futuros
guerreiros que, para cumprirem tais condições deveriam apresentar as máximas
condições de robustez e força". Os Brâmanes eliminavam os velhos enfermos e os
recém-nascidos defeituosos por considerá-los imprestáveis aos interesses do grupo .
Em Atenas, o Senado tinha o poder absolutos de decidir sobre a eliminação dos velhos
e incuráveis, dando-lhes o conium maculatum, bebida venenosa, em cerimônias
especiais. Na Idade Média, oferecia-se aos guerreiros feridos um punhal muito afiado,
conhecido por misericórdia, que lhes servia para evitar o sofrimento e a desonra.
O polegar para baixo dos césares era uma indulgente autorização à morte, permitindo
aos gladiadores feridos evitarem a agonia e o ultraje.
Há até quem afirme que o gesto dos guardas judeus de darem a Jesus uma esponja
embebida em vinagre, antes de constituir ato de zombaria e crueldade, teria sido uma
maneira piedosa de amenizar seu sofrimento, pois o que lhe ofereceram, segundo consta,
fora simplesmente o vinho da morte, numa atitude de extrema compaixão. Segundo
Dioscorides, esta substância "produzia um sono profundo e prolongado, durante o qual
o crucificado não sentia nem os mais cruentos castigos, e por fim caía em letargo
passando à morte insensivelmente"
Assim admitida na antiguidade, a eutanásia só foi condenada a partir do judaísmo e
do cristianismo, em cujos princípios a vida tinham o caráter sagrado. No entanto, foi a
partir do sentimento que cerca o direito moderno que a eutanásia tomou caráter
criminoso, como proteção irrecusável do mais valioso dos bens: a vida. Até mesmo nos
instantes mais densos, como nos conflitos internacionais, quando tudo parece perdido, face
as condições mais precárias e excepcionais, ainda assim o bem da vida é de tal
magnitude que a consciência humana procura protegê-la contra a insânia, criando regras
para impedir a prática de crueldades irreparáveis. Outras vezes, a ciência, de forma
desesperada, intima os cientistas do mundo inteiro a se debruçar sobre as mesas de seus
laboratórios, na procura dos meios salvadores da vida.
Incluído em 21/09/2001 15:47:46 - Alterado em 18/06/2022 22:59:03
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