Nos limites do fim da vida: um itinerário de cuidados


Fases Psíquicas do Paciente Terminal

Eutanásia: Um enfoque ético-político

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Fases Psíquicas do Paciente Terminal    


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Tânia Maria Borges

        Em meados da década de 60, uma Psiquiatra norte-americana, Elizabeth Kûbler-Ross, iniciou um trabalho que se tornou a origem da Tanatologia (ciência que estuda a morte).

        Ela formou grupos de pacientes terminais, com a participação de alguns enfermeiros, capelães (sacerdotes e pastores) e médicos. Juntos, realizaram diversos seminários em que debateram sobre as inúmeras dificuldades vividas pelo paciente terminal.

Entre as muitas descobertas, perceberam que, a partir do momento em que a pessoa descobre que está com uma doença incurável, ela pode passar por cinco fases psíquicas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.


1ª Fase: Negação

        Inicia-se logo após o paciente Ter conhecimento da gravidade de sua doença.

        A maioria reage com frases como esta: “Não, eu não, não pode ser verdade. Deve haver um engano.

        Embora a negação seja vivida por quase todos os pacientes terminais, ela é mais intensa naqueles que são informados de sua doença de forma inadequada; em jovens, com muitos sonhos e planos para o futuro; em pessoas mais idosas, com muitas metas que não foram realizadas e muitos objetivos que não foram alcançados; e, sobretudo, em pessoas irresponsáveis com a própria vida, aquelas que, continuamente, colocaram a sua vida em perigo, que abandonaram o seu ser, que durante a vida não cuidaram bem de si mesmas, e que, inconscientemente, já fizeram uma escolha de morte.

        Estas últimas permanecem na fase de negação por mais tempo, pois esta atitude é uma forma de perder tempo em ralação à vida e ganhar tempo em relação à morte. Só vão em busca de ajuda quando a doença já está bem avançada e, praticamente, não existe mais o que fazer. Mesmo assim, estarão sempre rejeitando o tratamento e mudando de médico.

        Ao passo que as pessoas que vivem comprometidas com a vida, que procuram cuidar bem de si mesmas, passam por esta fase de negação, mas saem rapidamente, pois, quando percebem situações que estão ameaçando a própria vida, vão imediatamente em busca de soluções adequadas.

        Junto com esta atitude de negação, o paciente terminal está vivendo grandes e terríveis medos, como, por exemplo, do desconhecido, da dor física, do hospital, de ir para a UTI, da solidão, do abandono, de separar-se das pessoas amadas e de morrer sozinho.

        É importante não lhe censurar (não censurá-lo) por esta atitude de negação e não lhe obrigar (não obrigá-lo) a assumir compromissos e atitudes para as quais ainda não se sente preparado, mas dar-lhe permissão para que possa ir assumindo essa dura realidade aos poucos, de acordo com o seu próprio ritmo.


2ª Fase: Raiva

        Depois das reações iniciais de choque e negação, muitos reagem com muita raiva à compreensão de que, em breve, poderão morrer.

        A pergunta imediata que surge é: “Por que eu?” “Por que não ele?”

        Este momento é muito difícil, tanto para ele, como para aqueles que o acompanham. A sua raiva se propaga em todas as direções: volta-se contra a equipe de saúde que lhe assiste, contra os familiares, os amigos, a sociedade, e, às vezes, até mesmo contra Deus.

        Ele está à procura do responsável por sua doença e sente muita raiva por ser ele e não um outro que está nesta situação.  Sente, também, uma grande inveja das pessoas que estão gozando de ótima saúde, enquanto ele está morrendo.

        Uma situação que também provoca raiva é quando ele segue todo o tratamento previsto e não experimenta melhora. Pelo contrário, após novos exames, é detectado o avanço da doença.

        Um tipo de pessoa que vive a raiva de uma forma muito intensa é aquela que foi educada para ser ‘muito forte’. Viveu sempre cansada e com excesso de atividade, cuidando de tudo e de todos, sem tempo para cuidar de si mesma, constantemente voltada para o ‘dever’ e pouquíssimas vezes se proporcionando momentos de prazer.

        No momento em que se encontra diante de uma doença terminal, sente muita raiva em perceber que foi incompetente na administração da própria vida, desviando toda a sua energia para os outros, não cuidando de si mesma com amor e responsabilidade. Como ela estava sempre cuidando dos outros, não aprendeu a ser cuidada, a receber. Portanto, esta situação de dependência em que se encontra, em função da doença, é extremamente angustiante, pois receber, para ela, não é sinônimo de amor, ao contrário, é uma grande humilhação.

        As atitudes de agressão e rejeição, demonstradas pelo paciente durante esta fase, podem assustar muito. Alguns amigos e familiares sentem-se magoados e começam a se afastar; enquanto outros assumem a postura de conselheiros, dizendo o que é certo, o que é errado, o que não devem fazer.

        No entanto, conselhos e repreensões de nada valerão neste momento. É importante compreender que esta é uma fase que faz parte do processo psíquico vivido por ele. Não se deve reprimir a expressão dos seus sentimentos, mas, se possível, encorajá-lo a manifestar a sua raiva.

        Nesta fase, também existem muitos medos que estão presentes. Há o medo de assistir à sua degradação física e, talvez, mental; o da mutilação; o da rejeição; o de tornar-se dependente e de perder o controle.

        Todos esses medos tornam-se mais leves e suportáveis quando não precisam ser negados e podem ser compartilhados.


3ª Fase: Barganha

        Uma vez que o paciente admite que está com uma doença terminal, que é ele mesmo e não outra pessoa, surge então a fase da barganha, da negociação, quando ele tenta se livrar da doença através de promessas.

        Procura fazer algum tipo de acordo com Deus, em que busca adiar a sua morte ou conseguir a sua cura, como, por exemplo: “Se Deus me curar, minha vida será toda dedicada a Ele”; “Se Deus me curar, trabalharei incansavelmente pelo seu Reino”; “Se Deus me curar, vou ajudar os pobres.”

        Ou então ele estabelece datas: “Deus, ajude-me a viver mais alguns anos, até os meus filhos estarem mais independentes e não precisarem tanto de mim.”

        As pessoas que mais barganham são aquelas que, com a descoberta da doença, descobriram também que, até então, cuidaram muito mal de si mesmas; realizaram pouquíssimas metas e investiram muito pouco nos seus ideais. Portanto, negociar com Deus é uma forma de pedir um pouco mais de tempo, para fazer agora o que não conseguiram fazer antes.

Publicado na Revista "Cavaleiro da Imaculada"
Edição de julho/2000, páginas de 35 a 37

Psicóloga Clínica
Membro do Movimento dos Focolares
Coordenadora da Equipe de Bioética de Educação para o Amor do Setor Família e Vida da CNBB


Incluído em 02/12/2001 15:37:00 - Alterado em 20/06/2022 22:45:38





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