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Itinerário ético para um emergencista
A Emergência Médica, como se sabe, é especialidade de vastas proporções e de procedimentos muito complexos, pelo fato de não se ater ao âmbito exclusivo de um ramo único da medicina, mas de se constituir da soma de todas as especialidades e de se apresentar sempre diante de situações ameaçadoras e graves.
Desta forma, trata-se de uma atividade difícil, a exigir do médico que a exerce um lastro de conhecimentos que ultrapassa o dos demais especialistas, visto que se envereda pelos caminhos de outras tantas áreas da atividade médica.
Também é preciso reafirmar que o politraumatizado não é um simples resultado do destino por um infortúnio ou acidente, mas o portador de um síndrome cuja incidência é cada vez maior e perfeitamente evitável, através de políticas e estratégias que considere o paciente de trauma como portador de uma outra doença como outra qualquer.
Tem-se procurado fazer distinção entre urgência e emergência médicas. Parece-nos bizantina essa diferença. Tem apenas o interesse da contabilização de certos interesses burocráticos e financeiros dos gestores oficiais da saúde. Conceituam urgência como "a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência imediata" E emergência como "a constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento imediato". Em suma, em qualquer das situações definidas, o paciente necessitará sempre de atendimento imediato.
Desde há muitos anos estamos defendendo a Emergência Médica como especialidade distinta e autônoma. Sempre procuramos mostrar a importância dessa atividade e tentar criar entre os jovens médicos um espírito e uma metodologia volitados às Lesões Graves. Entendemos que não basta ser simplesmente médico para que alguém se julgue apto para exercer essa atividade com a devida competência. Como não basta a um médico ser simplesmente médico para que faça intervenções cirúrgicas. São necessárias táticas mais acuradas, adestramento adequado e aquisição paulatina de um raciocínio e de uma disciplina muito peculiares.
O poliferido é uma entidade diferente, para o qual nem sempre se pode empregar as práticas convencionais de tratamento, pois ele é, acima e antes de tudo, um doente complexo. Cada dia que passa maior é a incidência de politraumatizados e as estatísticas mostram sua alarmante mortalidade, exigindo assim por parte da burocracia assistencial, medidas mais enérgicas e mais específicas na luta difícil pela sobrevivência desse tipo de paciente.
Não esquecer que no atendimento de urgência andam paralelamente o diagnóstico e o tratamento, pois vale mais uma manobra salvadora que o mais brilhante dos diagnósticos.
Em urgência médica devemos aprender a desconfiar, notadamente dos chamados "sinais patognomônicos" que são, na sua essência, pura ilusão clínica. Como também aprender a pensar com clareza, sem criar uma consciência exclusivamente especializada, para não se ater somente à parte e esquecer o todo, pois o juízo global deverá comandar as ações na emergência.
Acrescente-se a isso a necessidade da aplicação dos fundamentos da Ética e da Moral, suportes indispensáveis neste tumultuado e desafiador exercício. Isso porque além do processo ocorrer bruscamente e exigir um atendimento rápido, a confusa movimentação dos circunstantes, a troca constante de profissionais e o caráter surpreendente do fato tornam a relação muito conflitante. Face a iminência de morte, muitas regras deontológicas, como por exemplo o consentimento esclarecido do paciente ou de seus familiares, nem sempre são possíveis ou conciliadas.
Mesmo assim, por maior que seja a aflição e a gravidade do caso atendido, jamais essa forma de atividade médica pode prescindir dos princípios tradicionais da Ética Médica, próprios e inseparáveis da arte hipocrática.
A oposição aos postulados básicos da Medicina pode tornar-se uma ameaça real ao exercício de uma atividade que a tradição elegeu e consagrou num respeito público e numa mística de veneração. Desviar-se dos caminhos da Ética é arriscar-se em perspectivas sombrias. A ciência não é um valor absoluto a que todos os outros valores estejam subordinados. Ela tropeça quando vai de encontro às normas que consagram e protegem a dignidade de cada homem de cada mulher.
Compreendemos os prejuízos que a crescente renúncia aos dogmas deontológicos vem causando à profissão médica e, por isso, sentimos a necessidade de reascender na consciência de todos a flama do sentimento ético afrontado de pela hecatombe moral dos dias de agora.
Primeiro, deve ele ter a coragem para assumir a dimensão da responsabilidade e a liberdade de ação num momento tão difícil. Não permitir a intromissão ou a coação de quem quer que seja, autoridade ou não, na tentativa de deformar sua conduta ou dirigir para um rumo contrário das suas legítimas conclusões. Coragem para afirmar. Coragem para concluir. Coragem para confessar que não sabe. Coragem para pedir orientarão de um colega mais experiente.
Ser honesto para ser justo. Honesto para consigo mesmo, para com o paciente, para com seus familiares. Afastar desde cedo a falsa impressão que certos valores materiais parecem favorecer.
Aprender a ser humilde. Muita modéstia e pouca vaidade. O sucesso à fama deve ser um processo lento e elaborado na convicção do aprimoramento e da boa conduta ética e nunca pela presença ostensiva do nome ou do retrato nas colunas dos jornais.
Convencer-se de que a discrição é o escudo com que deve se proteger dos pronunciamentos açodados sobre cura ou sobre um tratamento mais heróico, sobretudo quando a verdade que se procura provar ainda não se apresenta nítida e livre de contestação. Fugir das declarações ruidosas prestadas aos jornalistas ávidos de sensacionalismo, em entrevistas espalhafatosas diante da desgraça e do infortúnio de alguém. Falar pouco e em tom sério, com argumentação e na oportunidade exata. Lembrar que o segredo médico pertence ao paciente e que a guarda desse sigilo só pode ser rompida em casos muito especiais.
Manter-se permanentemente atualizado, aumentando cada dia o saber médico, para que assim possa oferecer a seus pacientes uma melhor forma de assistência. Um dos deveres de conduta do médico é o de auto-informação continuada.
Dedicar-se de corpo e alma na luta em defesa do poliferido, vigilante e assíduo, pois o alvo de toda atenção do médico é o paciente. Não esmorecer nunca, mesmo diante de uma causa aparentemente perdida. Um outro dever de conduta do médico é o de vigilância.
Manifestar uma extrema paciência no exercício dessa arte tão difícil. Paciência com o doente e também paciência com a família dos enfermos. Evitar a indelicadeza e a grosseria, para que o paciente não perca a ilusão e a confiança.
Não esquecer jamais que a caridade é o elemento que dignifica a profissão e quem sofre tem de contar com a nossa misericórdia. Quem ouve uma palavra de esperança é como quem escuta a voz de Deus.
Conscientizar-se que a prudência é tão necessária quanto a pronta intervenção. A prudência é a expectativa consciente e inteligente de atuar na hora certa. Um outro dever de conduta do médico e o de abstenção de abuso.
Ter espírito de observação. Observar é por em andamento o exercício elementar dos sentidos. Atuar com espírito de observação é ver o que os outros não vêem. É poder concluir acertadamente através de uma convicção, comparando os fatos entre si, relacionando-os e chegando à conclusões objetivas que por si não se encontram ao alcance dos nossos sentidos.
Assim, grande é a responsabilidade, como também vastíssimo é o campo de atuação do urgentista. Tão vasto que excede da atuação do especialista e que exigem mais do que ser simplesmente médico. Exige também uma dignidade que jamais tenha de se dobrar envergonhada diante da amargura de uma decepção. Ao contrário, tudo fazer para que seu trabalho seja admirado pelo cunho da fidelidade a sua arte, a sua ciência e à tradição hipocrática.
Decálogo do Emergencista
1 - Entender que o diagnóstico e o tratamento devem andar juntos, pois vale mais uma manobra salvadora que um diagnóstico brilhante.
2 - Desconfiar dos chamados sinais patognomônicos - eles são tão-somente uma ilusão clínica
3 - Evitar conclusões intuitivas e precipitadas, atendo-se ao que recomenda à experiência consagrada.
4 - Evitar uma consciência exclusivamente especializada, voltado-se à parte mas sem esquecer o todo.
5 - Ter coragem para assumir a dimensão de sua responsabilidade sem aceitar a intromissão ou a coação.
6 - Ter coragem para fazer, para não fazer e para dizer que não sabe a alguém mais experimentado.
7 - Agir com modéstia e sem vaidade, pois a humildade é a mãe de todas as virtudes.
8 - Falar pouco e em tom sério, evitando pronunciamentos açodados em declarações ruidosas ante o infortúnio.
9 - Ser competente para ser respeitado, aumentando cada dia o saber saber continuado
10 - Ser honesto para ser justo, afastando a falsa impressão que os valores materiais parecem favorecer.
Palestra proferida
II Curso de Emergências Médicas
Sociedade Cearense de Medicina de Urgência
Incluído em 08/10/2001 19:43:45 - Alterado em 20/06/2022 22:54:11
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Idealização, Programação e Manutenção: Prof. Doutor Malthus Fonseca Galvão
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